ZOANDO NA CAATINGA

A VOZ DE VALDENIRA


Valdenira é uma paraibana do semi-árido, vivendo na confluência de vários Estados. Ela é da base da base. Não tem computador e me telefona sempre para dar notícias e falar suas impressões sobre muitos assuntos que afetam os brasileiros da caatinga e de todo o país. Coloco aqui sua fala e discuto com ela suas idéias, às vezes muito radicais e críticas, mas quase sempre cheias de razão e divertidas. Acompanhe.

Valdenira desta vez veio atacando a internet. Vai sobrar para os "falsários". Acompanhem.

"Alôzinho, minha amiga. Hoje num tem entrevista não, vim só pra denunciar mesmo.Bem que o profeta já falou dos finais dos tempos. Num tem só falso profeta não, tem também os "falsários" da internet."

-Valdenira, você usa a internet?

"Uso não, minha amiga, mas sou viajada, conheço muito lugar e muita gente. Minhas anteninhas são ligadas.O pessoal me conta tudo.

-Mas esses "falsários" é aquele pessoal que dá golpe em bancos e pessoas, rouba dinheiro pela internet ?

"É nada, minha amiga. Os "falsários" são aqueles falsos, que ficam se passando por outros pra enganar as pessoas e pra tirarem algum proveito. Uma conhecida minha, de uma cidade perto daqui, tinha uns amigos na internet. Era muito papo, muita conversa bonita e ela mandando o verbo, coisa e tal. Um bom dia, ela tava assistindo televisão e viu o ator da novela lendo um papel bonito pra namorada. Quando ela começou a prestar atenção era uma mensagem daquelas bem inspirada que ela tinha mandado pra um dos tais amigos. Num fizeram nem a cortesia de mudar um pouquinho o texto, tanta era a preguiça de quem copiou a estória.Depois que inventaram a máquina xerox e a internet ninguém quer mais criar nada. Ficam só na cópia, os "falsários" da internet. Depois ela descobriu que umas das tais amizades eram falsas. Era gente se passando por outras... mal intencionados, né não, minha amiga?"

-Mas, Valdenira, violar correspondência alheia é crime pela lei brasileira, e se passar por outros é crime de falsidade ideológica.

"Minha amiga, num é só crime pela lei, não. É crime contra a natureza. Eu digo sempre, deixem de copiar, de imitar, vão criar, qualquer coisa, senão daqui a pouco os nervinhos da cabeça enferrujam, vão ficar igual lata. Vão virar robô. E deixem de alimentar o mau caratismo. Isso num serve pra nada. Façam uma abstinenciazinha, deixem de ser mau caráter pelo menos na Quaresma!".

"Outra conhecida minha, uma artista de alta sensibilidade, precisava botar a alma pra cantar. Foi se meter na internet. Aí, papo vai e papo vem, "cante lá que eu canto cá", ela pensando que se correspondia com uns amigos. Descobriu depois que a caixa das mensagens lá deles era igual a "casa da mãe Joana". Deve ter se correspondido, sem saber, até com os cachorros e gatos das casas. Resultado: falsários. Eu disse: Vão, vão pra internet...Vêem uma bicheira e pensam que é uma frigideira...

-Mas, a alma de sua conhecida cantou mesmo assim?

"Cantou..."

-E então,não era isso que ela queria? Você parece que está meio afogueada, Valdenira. Será que o fogo já está chegando por aí?

"Num tenho medo de fogo, não, minha amiga. Fogo não me queima. Pode vir quente que eu estou fervente. Agora, no estado que tava aquela minha conhecida, pra alma dela cantar num precisava de internet, não. Do jeito que ela tava, a alma dela cantava até com zumbido de mosquito e cantiga de grilo. Num precisava de cantoria de internet, não. Mas foi pra lá... e depois viu o que aconteceu. Eu disse pra ela:da próxima vez que você quiser botar alma pra cantar, vá ouvir canto de passarinho. Pelo menos eles não conhecem ainda a internet, e num aprenderam as manias dos "falsários". Os falsários da internet são como os falsários do Brasil. Tudo igual aquela propaganda de xampu pra caspa: "parece mas não é". Com essa eu já vou, minha amiga. Até loguinho.

Ai, ai, Valdenira. A verdade é que esses "falsários" não são "falsários" somente da internet e do Brasil, mas são "falsários" também de suas próprias vidas. O que a internet e a política fazem é torná-los mais evidentes. Vamos solicitar aos "maiorais" da internet e das leis pra tomarem providências, senão vai acabar virando caso de polícia. Mas vamos cantar também, Valdenira. Como diz a canção :"Mais que nunca é preciso cantar. É preciso cantar e alegrar a cidade".

 

15/03/2004

Colunista: Verônica M.Mapurunga de Miranda
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