ZOANDO NA CAATINGA

A VOZ DE VALDENIRA


Valdenira é uma paraibana do semi-árido, vivendo na confluência de vários Estados. Ela é da base da base. Não tem computador e me telefona sempre para dar notícias e falar suas impressões sobre muitos assuntos que afetam os brasileiros da caatinga e de todo o país. Coloco aqui sua fala e discuto com ela suas idéias, às vezes muito radicais e críticas, mas quase sempre cheias de razão e divertidas. Acompanhe.

E agora, será que a corrupção vai dançar? Vejamos as novidades de Valdenira.

"Alôzinho, minha amiga! A conversa tinha ficado no meio do caminho, mas agora vai. Nós marcamos uma reunião que era pra organizar o "baião da corrupção". Aí lá, primeiro foi a discussão de por que que havia tanta corrupção no Brasil. O pessoal que não é "besta" se lembrava de muitas corrupções que tinham nos governos passados, tudo levadas na maciota, transformadas na tal de "pizza", pra enganar a população.E agora a danada da corrupção escancarava os dentes como nunca.Aí perguntaram lá se a corrupção que estava acontecendo, agora, era mesmo maior que as outras."

"Meu amigo ex-ex-revolucionário que estava na reunião disse assim: Pessoal, temos que lembrar que vivemos em um país em que a mídia não é democrática, mas dominada ainda pelas elites da Casa Grande. E o objetivo delas é acabar com as possibilidades de transformação da sociedade e manter privilégios. Por isso todo esse estardalhaço agora, porque o governo foi eleito pelas esquerdas. Mas, também, podemos aventar a possibilidade de que essas estruturas de tão podres, diante de uma pressão de desejos tão profundos da população vieram para cima a " boiar"  e mostrar o que elas realmente são - algo que não serve ao povo brasileiro.Todo ser humano é corruptível, e com uma máquina de Estado e política podre todos ou quase todos que aceitam essa máquina acabam entrando no sistema e compartilhando a corrupção. As bases verdadeiras de qualquer corrupção é a falta de democracia, é o poder absoluto, a negação dos direitos políticos da população em geral, da sociedade civil."

"Aí, minha amiga, eu me lembrei das histórias que contavam dos reinados, que caíram com a Revolução Francesa. Os reis viviam nos castelos, que tinham uns rios (os fossos) que separavam o povo do castelo, que era pros ricos não serem invadidos, quando o povo tava em extrema necessidade. E contavam histórias de dragão nos fossos, que era pro povo não chegar nem perto, pra amedrontar."

"Quando eu falei isso lá na reunião, uma pessoa falou assim: pois é igual Brasília. Ficam tudo lá no Castelo. Se a gente quiser reclamar tem que fazer movimento do lado de fora. Ás vezes botam a polícia em cima da gente, os dragões à cavalo. Os partidos, até os que diziam que eram do povo, foram ficando por lá, fazendo acordo entre eles, defendendo seus próprios interesses, e nós aqui, ó, babau! Então, isso aí é que dá corrupção, porque a gente fica sem saber nada direito do que acontece lá por cima. E eles fazem o que querem. E a gente só sabe quando o jornal da televisão bota a boca no trombone.E como diz nosso amigo aí, eles só falam o que interessa pros pagadores das notícias.O que eles querem mesmo é ganhar dinheiro... E o povo fica mal informado. Mas é bom saber, o povo não é besta, não. Podem mentir e aprontar, mas a mentira tem pernas curtas. A hora da verdade sempre chega."

-E então, Valdenira, o que combinaram?

"Pois é, diante da situação, que era muito da melindrosa e "das profundas", o pessoal achou melhor uma consulta pro pessoal mais sabido, que orienta a comunidade. Aí resolvemos chamar pro "Baião da Corrupção" o Zé das Trovas, o Pedro Grande, o Mané da Estrada e a Maria das Alcovas."

E quem é essa Maria das Alcovas, Valdenira?

"Ah! minha amiga, eu nunca tinha lhe apresentado, né mesmo? É que a Maria das Alcovas não gosta de entrevista. Ela é de pouco falar. Mas é a mulher mais sabida que tem por aqui e muito respeitada. É das ocultas. E é parteira. A melhor parteira que tem por essas redondezas. As mulheres preferem ter filho com ela que com médico em hospital.Doença que médico não cura é com ela mesmo. Ela faz o que um médico não sabe, ler o coração e a mente das pessoas. Quando ela olha é que nem uma radiografia.Mas só fala aquilo que é necessário, não é falante como eu, não.Ela diz que muita palavra atrapalha. Eu digo sempre, cada qual na sua: uns nasceram pra falar pouco e outros pra alardear."

"Bem, minha amiga, aí o pessoal decidiu chamar uns bons sanfoneiros e fazer uma boa fogueira porque, com certeza, ia ter muita estrutura podre pra queimar. E é bom aproveitar esses momentos que o povo anda inspirado, cantando música de Valdick Soriano: A voz do povo é a voz de Deus...rá, rá, rá. Muito obrigado amigo meu, tudo de bom felicidades!Tchauzinho, depois eu conto mais...

Avante, Valdenira, o que a água não lava o fogo queima...

 
16/07/2005
Colunista: Verônica M.Mapurunga de Miranda
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