ZOANDO NA CAATINGA

A VOZ DE VALDENIRA


Valdenira é uma paraibana do semi-árido, vivendo na confluência de vários Estados. Ela é da base da base. Não tem computador e me telefona sempre para dar notícias e falar suas impressões sobre muitos assuntos que afetam os brasileiros da caatinga e de todo o país. Coloco aqui sua fala e discuto com ela suas idéias, às vezes muito radicais e críticas, mas quase sempre cheias de razão e divertidas. Acompanhe.

Parece que Baião é igual Gafieira, quem está dentro não sai, quem tá fora não entra. O certo é que quem estava lá cumpriu sua responsabilidade. Acompanhem Valdenira.

"Alôzinho, minha amiga! O Baião da Corrupção foi comprido, pois era muita atividade. Muita gente queria logo era dançar, mas aí nós explicamos: Pessoal é o seguinte, é melhor botar primeiro a corrupção pra dançar, senão quem dança é a gente. A fogueira muito grande no meio do terreiro. Aí nós fizemos uma roda e foi chamada a Maria das Alcovas. Ela tinha que examinar o material, as estruturas podres, porque com seus olhos de radiografia não tinha outra melhor pra fazer isso. O madeirame já tava lá...tudo cheio de cupim. Ela pegou de um por um e foi olhando, examinando. E depois falou:

"Muito me admira dessa estrutura não ter caído antes. Estrutura feita com madeira da pior qualidade. Vejo aqui muito sofrimento, muita desigualdade, muita violência, muita injustiça social, muita ignorância e muito desamor.Um país com uma coluna vertebral dessa corre o risco de desabar a qualquer momento e de ser apropriado por aventureiros."

"Meu amigo ex-ex-revolucionário não querendo interromper, mas acabou interrompendo, aproveitando pra explicar que não era de graça que tinham muitos países poderosos estrangeiros interessados no tipo de política econômica e outras do governo do Brasil. Pois ia chegar o momento dessa estrutura se espatifar de vez e os aventureiros iam fazer nhac... e se apropriarem do Brasil. Com essas estruturas podres e fracas era muito mais fácil. Dos males o menor, pois ainda há tempo e o povo ainda tem um naco de esperança. E aproveitou pra perguntar: E essas estruturas têm conserto, dá pra reformar, fazer uma guaribadazinha, uma recauchutagem? E a Maria das Alcovas respondeu: Essa daqui, mesmo não. Essa daqui tem é que ir pro fogo direto, que é pra não infestar o ambiente.Quanto mais se tentar consertar é pior pra quem fizer isso. É pior que o vírus Ebola. Só com fogo. Quem com porcos anda com porcos se lambuza.Quem tentar consertar o que não pode vai junto. Esse mal tem que ser cortado pela raiz, e ser construída uma nova estrutura.Com madeira de lei ou metal precioso que não escureça e desgaste."

"Aí, minha amiga, o pessoal que tava lá presente disse assim: Pois vamos botar já, já, no fogo. Pois nós já sabemos disso e não queremos ser responsável por um acontecimento desastroso desse.Nós queremos o Brasil inteiro pra todo mundo, não como esse povo egoísta que quer o Brasil só pra si, uns poucos gatos pingados.Ou construímos essa base direito ou o Brasil se dana. O recado está dado."

"Minha amiga, já tava todo mundo com um facho de fogo na mão pra colocar nas estruturas e meu amigo ex-ex-revolucionário disse assim: Calma! Vamos esperar a apreciação dos outros convidados, porque esse dossiê tem que estar completo.Aí o pessoal se acalmou e esperou as outras opiniões."

Eu fiquei pensando assim, minha amiga: Tanta madeira boa, de lei, na Amazônia, e eles foram usar essa madeira de segunda. Mas é assim, desde o Descobrimento do Brasil, o que é bom e de qualidade eles mandam pra fora e a gente fica agüentando aqui o material de segunda, que vem de fora. Ai, ai. Mas amanhã eu continuo minha amiga. Tá comprido e a minha ficha caiu. Até loguinho!"

Até loguinho, Valdenira. Vamos preparar essa fogueira rapidinho, antes que um aventureiro lance mão...

 

16/07/2005
 
Colunista: Verônica M.Mapurunga de Miranda
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