ZOANDO NA CAATINGA

 VALDENIRA NA TRANSIÇÃO


Valdenira é uma paraibana do semi-árido, vivendo na confluência de vários Estados. Ela é da base da base. Não tem computador e me telefona sempre para dar notícias e falar suas impressões sobre muitos assuntos que afetam os brasileiros da caatinga, de todo o país e agora também do planeta. Coloco aqui sua fala e discuto com ela suas idéias, às vezes muito radicais e críticas, mas quase sempre cheias de razão e divertidas. Depois de um longo tempo afastada ela reapareceu. As tarefas da transição planetária mobilizaram muitos corações, inclusive aqueles da Caatinga. São novos tempos, novas tarefas e novos movimentos de transformação. Acompanhe.

Valdenira fazia algum tempo estava me telefonando. E eu que nem sabia que em época de COVID-19 as coisas na caatinga tinham mudado bastante. Valdenira ganhou um smartphone e agora estava com livre comunicação. E eu fugindo dos telefonemas de propaganda acabei confundindo tudo, mas ela acabou conseguindo me alcançar. O apelo do coração foi mais forte e eu já estou com o pé da barriga em forma, sem fazer exercício, somente de tanto rir de suas novidades. Como diz o Macaco Simão, em época de Covid-19 nós chora, mas nós goza e ri demais. Acompanhe as peripécias da nova fase de Valdenira.
 

Ela já chegou cantando: "Se você pensa que meu coração é de papel/Fique pensando pois não é./Ele é igualzinho ao seu e sofre como eu/ Não jogue amor ao léo, meu coração que não é de papel.

-Olá Valdenira! Há quanto tempo! E cantando músicas da jovem guarda, do Vanderley Cardoso.

-É, minha amiga, faz um tempão que eu ligo pra você, mas resposta que é bom... Meu amigo revolucionário apareceu e disse assim: Valdenira é o seguinte: Chegamos em um tempo de abrir e movimentar os corações. Essa é a nova palavra de ordem e eu pensei que isso aqui na caatinga era um ponto importante.Temos que movimentar os corações. Eu não posso estar sempre por aqui porque as tarefas nos outros lugares são muito importantes, mas você bem que poderia mobilizar os corações, quero dizer, as pessoas que já lidam e trabalham com ele, porque necessitamos de pontes e divulgação nessa atividade primordial. Minha amiga, aí eu pensei em você, que vive falando de coração.  Daí as cantorias. E agora com o telefone novo fica mais fácil.

- Valdenira, mas que importante que a caatinga está nesse projeto planetário de abrir os corações. É necessário experiência e agora realmente pensei que não pode existir experiência de coração sem a natureza. Vocês têm muito know how nisso.

-Minha amiga com o tal do know how ou não estamos na luta e no movimento, senão mais uma vez a gente corre o risco de desaparecer. Eu disse assin no zap, pessoal é o seguinte: Vamos movimentar as idéias e os esqueletos pra abrir o coração senão nós vamos dançar. Vamos mais uma vez agradecer nossa mãe terra e natureza que não esqueceu de nós e aí quem sabe a COVID desiste de nós.

-Valdenira e seu amigo revolucionário, que é dele?

-Minha amiga ele agora está nas altas esferas, preparando a Nova Terra, mas é cheio de segredos, secretíssimos. De vez em quando ele baixa por aqui, chega eu tomo um susto. Eu disse pra ele assim: Rapaz, se você continuar a chegar aqui desse jeito você vai assustar o povo. Aterrisando toda hora em tudo que é lugar. Num é melhor fazer um campinho de aviação pra você, não? Assim você aterrisa com mais segurança e sem assustar o povo. Depois sou eu que tenho que dar explicação. E ele me respondeu assim: Valdenira, você acha que os outros estão vendo eu chegar aqui? É só você que está me vendo, porque tem antenas, entendeu? Aí eu pensei: Ai, meu Deus, que carma! Estou vendo que essa história vai sobrar pra mim.

-Mas, me conte essa história direito. Quer dizer que ele não vem de avião? Como é isso?

- Minha amiga ele vem pelo astral, igual essas "avoantes do astral" que dizem que saem do corpo e vão por aí no espaço. No começo eu não queria acreditar. Eu pensava até que ele já tinha morrido. Ido dessa pra melhor. Igual fantasma. Aí ele me explicou que ele saía do corpo. Tinha uma técnica lá que eles faziam. Parece que ele num tem muito tempo e nem dinheiro pra ficar pegando avião e como o trabalho é no planeta todo, fica mais fácil. E em época de COVID fica mais difícil andar de avião. Mas daí, depois eu fiquei sabendo de outras histórias por aqui, que eu não gostei nem um pouco. Tem um monte de mulher por aí, apavoradas, porque essas "avoantes do astral", que aprendem a técnica, mas não são flor que se cheire, um povo sem ética, anda chegando até no banheiro das mulheres.

-Como é isso Valdenira? Esse é um problema sério.

-Pois é minha amiga, esse pessoal que sai por aí deveria ter carta de habilitação do astral, pra num fazer essas coisas erradas. Eu disse pra meu amigo revolucionário: Rapaz que negócio é esse? Eu nunca vi alma, nem as almas penadas, fazer uma safadeza dessas. As mulheres não podem mais tomar banho, não podem mais fazer suas necessidades nos seus banheiros, que topam com essas avoantes do astral? As mulheres já estão cantando aquela música antiga da Rita Lee (No escurinho do cinema...) assim: "No escurinho do banheiro...". Elas nem acendem mais a luz do banheiro, com medo de serem espiadas por essas "avoantes do astral". Num existe nenhuma regra pra impedir esse pessoal de fazer isso, não? Antigamente as pessoas esperavam ser convidadas pra entrar na casa dos outros. Meu amigo revolucionário disse assim: É Valdenira, fica difícil mandar cartão de visitas para esse pessoal que faz projeção astral. Infelizmente, o astral não é um espaço de muito desenvolvimento espiritual, as pessoas saem do corpo com uma técnica, mas eles estão submetidos, como todos nós à lei do retorno, à lei do carma. Eles pensam que não pagam pelas coisas erradas que fazem? Agora, a questão é que o povo da caatinga tem muita sensibilidade para o astral, porque são muito ligados na natureza, por isso se conectam com facilidade e por isso ficam vendo essas coisas por aí.

-Que coisa Valdenira? Eu não imaginava que o pessoal do semiárido era assim tão conectado?

-Pois é minha amiga. Eu já sabia um pouco disso, porque as mulheres daqui se comunicam com os passarinhos e até entendem a linguagem deles. Eu tinha uma tia que gostava de tomar banho no rio. E o pessoal tinha o costume de tomar banho no rio em traje de Eva e Adão, assim como Deus botou no mundo. Aí, um dia ela foi tomar banho no rio e tinha um passarinho (bem-te-vi) no galho de uma árvore lá, e quando viu ela começar a tirar a roupa, o danado do passarinho começou a cantar: Bem-te-vi, bem-te-vi...Ela ficou uma onça com o passarinho e disse assim: Ah me viu, né? Pois eu não vou mais tomar banho, não. Vestiu a roupa e foi pra casa. Por isso as pessoas vêem, porque sabem se comunicar com a natureza, sabem essa lingua. Mas mesmo que não visse, isso é invasão de espaço aéreo privado. Se  a NASA não permite invasão do espaço aéreo, por que nós vamos permitir invasão dos nossos banheiros por essas avoantes? Meu amigo revolucionário ainda disse assim: Olhe, Valdenira, vamos sair dessa inocência. Você acha que os espíritos desencarnados, os mentores espirituais e os nossos anjos e guias não nos vêem dormindo, por exemplo? Não temos como evitar isso.

-Eu disse assim: Olhe aqui rapaz! Que eticazinha estranha é essa sua? Espírito desencarnado é uma coisa, "avoante do astral" vivente é outra coisa. Ficar se aproveitando de uma situação...Sacanagem...Isso sim. Mas eu já tenho uma formazinha pra acabar com essa brincadeira. Na próxima eu lhe conto. Tchauzinho, minha amiga.

-Tchau Valdenira! Até mais ver. E cuidado com as avoantes do astral, que elas não saibam de sua campanha!

Veronica Maria Mapurunga de Miranda - 15.06. 2020

Colunista: Verônica Maria Mapurunga de Miranda
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