ZOANDO NA CAATINGA |
VALDENIRA NA TRANSIÇÃO |
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Valdenira é uma paraibana do semi-árido, vivendo na confluência de vários Estados. Ela é da base da base. Não tem computador e me telefona sempre para dar notícias e falar suas impressões sobre muitos assuntos que afetam os brasileiros da caatinga, de todo o país e agora também do planeta. Coloco aqui sua fala e discuto com ela suas idéias, às vezes muito radicais e críticas, mas quase sempre cheias de razão e divertidas. Depois de um longo tempo afastada ela reapareceu. As tarefas da transição planetária mobilizaram muitos corações, inclusive aqueles da Caatinga. São novos tempos, novas tarefas e novos movimentos de transformação. Acompanhe. |
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Lá vem ela chegando e agora cheia de imagens. -Minha amiga, estou aqui debaixo do pé de Tamarineira (Tamarindo). Uma árvore alta, que dá sombra, os frutos são uma delícia, refrescante cheio de vitaminas. De vez em quando eu me abraço com ela, já que o abraço em gente tá proibido. E aí abraço toda a natureza. fico com as energias renovadas. Plante uma árvore, abrace uma árvore, coma o fruto da árvore. Eu aproveito agora esses telefones com filme e fotografia, pra mostrar as belezas da caatinga e também pro pessoal da cidade saber o que é natureza. Outro dia falando com uma amiga minha eu disse pra ela: Chame aí seu menininho pra ele ver uma galinha de verdade e saber como é que é, ela faz co-co-ri-có, põe ovo, tem pintinhos. Coitadinho dos bichinhos só vêem galinha aos pedaços, na bandejinha, pronta pra cozinhar. Ou então, as coitadas das galinhas presas, nas granjas, parecendo uma presidiárias. Um menininho perguntou assim: Mamãe, essas galinhas cometeram algum crime? Elas estão todas presas. Pois é, vida louca vida essa aí e depois querem que as pessoas sejam normais. Por isso eu vou utilizando esse telefone pra alguma coisa que preste. Ficar falando besteirol num é comigo mesmo. -É... Valdenira..O telefone e a tecnologia podem realmente ser úteis, desde que saibamos usá-los de forma mais adequada e que eles não tomem conta da vida da gente. -Ora, minha amiga, tem gente que descarrega tudo encima do celular, culpa o celular por seus problemas, joga o celular no chão quando faz besteira pelo celular. Uma amiga minha, que tinha um marido que viajava pra vender suas verduras e frutas em outra cidade, não se desgrudava do celular. Um dia quando voltou de uma das viagens, foi tomar banho e deixou o celular na mesa. O celular tocou e ela atendeu porque ele estava no banheiro. Quando atendeu uma voz do outro lado disse assim: Oi meu amor, sou eu a gata. E ela cresceu os olhos e quase dá um grito. Não podia imaginar que o marido tão sonso tinha uma amante. Assim que ele saiu do banheiro, ela disse: Gata, né? Quem é a gata do telefone? Imediatamente ele pegou o telefone, jogou o telefone no chão dizendo: Não tem gata nenhuma. É esse desgraçado desse aparelho nojento que foi feito para separar as famílias. Não uso mais essa desgraça. Minha amiga, engula essa. Eu não quis mais colocar azeite na fogueira e não disse nada, mas que os pobres dos celulares têm sofrido muitas calúnias, isso tem. -Mas Valdenira, você ficou de me contar como ia se livrar das "avoantes do astral". Já sabe o que fazer? -Minha amiga essa é uma luta difícil, eu reconheço, mas eu tenho ali umas balas de prata, que o pessoal desenterrou de uma botija antiga, junto com uma arma velha. Deve ser bem do tempo do descobrimento do Brasil, descobrimento não, do tempo que os portugueses toparam no Brasil, da época que o Caramuru assustou os índios, com aquele rifle que o pessoal usava depois pra caçar passarinho. Muito assustador, né? Mas só serviam as balas, o rifle não servia mais. Mas eu tenho umas baladeiras(estilingue) guardadas, que o IBAMA proibiu, porque o pessoal usava pra derrubar avoante. Se servia pra avoante naquelas épocas, deve servir pras essas avoantes de agora também e eu vou usar com as balas de prata. -Valdenira, eu sabia que bala de prata era pra matar vampiros. -Pois é, minha amiga, nunca se sabe se algum deles não é um vampiro, não é mesmo? Se for, matei duas avoantes com uma baladeira só. Eu já combinei com a mulherada: Vamos afastar esse pessoalzinho na baladeira. De qualquer forma, tem que ficar vigiando pra eles não baixarem no lugar errado. Vou acabar virando guarda de trânsito do astral da caatinga. Ai, Meu Deus! E eu que pensava que ser escriturária da fome no governo Lula era tarefa difícil. Ai, que saudade dos velhos tempos! -O certo é levar a bola pra frente, Valdenira, novos tempos, novas tarefas. -Pois é, é o mesmo que diz meu amigo revolucionário. Hoje vai ter o "Forró da Conexão". É um canal da internet que o pessoal daqui inventou, já que a gente não podia mais dançar agarradinho por causa da COVID. Eu vou botar um forrozinho bem danado pra essas avoantes se tocarem da situação. Tchauzinho, minha amiga. Vai aqui o áudio pra você. Mas o amor é o carro chefe. rá, rá, rá... "Maria, quem foi que lhe disse que bala de rifle não mata ninguém Maria, quem foi que lhe disse que beijo de amor não consola ninguém. Ai, Maria, Maria meu amor. Ai, Maria, eu quero é seu amor.
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Veronica Maria Mapurunga de Miranda - 15.06. 2020 |
Colunista: Verônica Maria Mapurunga de Miranda |
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